Uma das tradicionais profissões do transporte coletivo pode estar seriamente ameaçada. Isso porque em diversas cidades brasileiras existe a proposta de retirar a função dos cobradores. A principal argumentação usada é que muitos centros urbanos de países desenvolvidos adotaram modelos eletrônicos e tecnológicos para cobrar as passagens.
O que muitas pessoas não entendem é que acabar com a função traz mais prejuízos que benefícios. A Federação dos Trabalhadores em Transportes Rodoviários do Estado do Paraná (Fetropar) acredita que o trabalhador é quem mais se afeta nessa situação.
Para exemplificar os problemas gerados pela falta do cobrador, imagine uma cena bastante comum. Trânsito desafiador com congestionamentos e pessoas tentando circular por todos os lados. Nada muito fora do comum, sendo uma situação que exige a atenção do motorista durante todo o tempo.
Agora, imagine esse mesmo motorista tendo que dirigir um veículo de grande porte e, ao mesmo tempo, receber o dinheiro do passageiro, pegar o troco e devolvê-lo, e ainda liberar a passagem no coletivo. São muitas funções que desviam a atenção do motorista – que deveria estar focada totalmente no trânsito -, deixando-o sobrecarregado. Isso aumenta o risco de acidentes.
Essa é uma das inúmeras consequências. Além de aumentar os índices de desemprego com a demissão dos cobradores, acabar com a função precariza as condições de trabalho dos próprios motoristas.
Sem o cobrador no transporte coletivo, a empresa deixará de pagar o salário de diversos trabalhadores. Em vez desse valor reduzir o preço da tarifa que o usuário paga, essa diferença vai direto para o lucro das empresas.
Até mesmo o usuário – que pode ser levado a acreditar que a retirada dos cobradores vai trazer apenas benefícios -, também perde nessa história. Com a presença do cobrador, as pessoas entram no ônibus e logo o motorista pode seguir o trajeto. Já sem a presença do trabalhador, o motorista fica encarregado de cobrar a tarifa dos passageiros que pagam com dinheiro. Esse tempo em que o motorista pega o dinheiro e libera a passagem implica em viagens mais demoradas e, consequentemente, mais tempo do passageiro dentro do veículo, porque essa demora a mais se acumula durante todo o trajeto.
O presidente da Fetropar, João Batista da Silva, lembra de um detalhe bastante importante.
“A função do cobrador não se limita a receber o dinheiro das tarifas. Ele ajuda o motorista dando orientações no trânsito, auxílio em manobras e auxilia passageiros idosos e cadeirantes a entrar e sair do veículo, por exemplo. A população precisa ficar atenta porque acabar com a função do cobrador prejudica a qualidade do transporte tanto para os motoristas quanto para os usuários”, afirma.