Um ranking divulgado na semana passada pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) reforçou uma realidade cruel no Brasil. Nosso país ocupa a segunda pior colocação em mobilidade social, perdendo apenas para a Colômbia, empatado com a África do Sul. O estudo traz dados de 30 países.
Para que o descendente de um brasileiro entre os 10% mais pobres atinja o nível médio de rendimento do país, ele levaria nove gerações. A média dos países da OCDE é de 5 gerações. Em países como Dinamarca, Finlândia e Suécia, líderes do ranking, seriam necessárias apenas duas a três gerações para que as crianças de famílias pobres atingissem a renda média.
E como bem aponta o estudo, as circunstâncias dos pais são fator decisivo na vida dos jovens, com o status econômico e social sendo transmitido através das gerações.
A pergunta sobre a qual precisamos refletir é: será possível mudar esse quadro? O Brasil tem feito muito pouco para combater a desigualdade de renda entre as gerações. E, assim como outros países da América Latina, temos uma combinação de alta desigualdade com baixa mobilidade de rendimentos. Não podemos dizer que não houve progresso nas últimas décadas: em 15 anos, o Brasil tirou da miséria 25 milhões de cidadãos. Mas mesmo assim nosso ensino ainda tem qualidade sofrível e não conseguimos levar aos jovens de camadas mais pobres os instrumentos para que eles possam alavancar sua condição para uma vida melhor. Educação é o ponto primordial quando pensamos em melhorias a longo prazo. Investir em educação é investir na possibilidade de um futuro com mais chances de sucesso.
Para possibilitar essa mudança, onde a vida destes jovens tenha real chance de melhora, o Brasil precisa ter um olhar mais atento aos gastos públicos, principalmente nas áreas de educação e saúde, e trabalhar sua eficácia, ou seja, precisamos aprender a gastar com sabedoria.
O próprio documento da OCDE traz sugestões que poderiam perfeitamente ser incorporadas como prioridade por aqueles que são responsáveis pela elaboração de políticas públicas. O aperfeiçoamento do acesso e qualidade do ensino profissional é uma delas, assim como a melhor distribuição de renda por meio de reformas que aumentem os gastos sociais em programas justamente direcionados aos grupos mais vulneráveis.
O estudo é mais um alerta de que já passou da hora de o país corrigir os problemas estruturais que persistem e mantém em movimento contínuo o ciclo da pobreza. Então, volto a perguntar: dá para mudar essa realidade? Sim, mas apenas se as mudanças forem profundas a ponto de mexer nas estruturas tão arraigadas em nosso país.
Fonte: Congresso em Foco, 27 de junho de 2018