A intervenção militar no Rio de Janeironão tem melhorado os índices de criminalidade no estado fluminense. Roubos de veículos, de cargas, de pedestres, em ônibus e de celulares tiveram seus piores índices em março deste ano, desde o início da série histórica em que tais dados são analisados, iniciado em 1991. Segundo o Instituto de Segurança Pública (ISP), também houve diminuição nos principais índices de atividade policial, como as apreensões de armas. Por outro lado, houve aumento da letalidade policial, a maior desde 2008.
“Do jeito que foi feita, a intervenção não agradou nem os militares interventores, nem a população do Rio de Janeiro, e muito menos o aparato da segurança pública do Estado”, analisa o diretor-executivo do Instituto Sou da Paz Ivan Marques, em entrevista ao jornalista Glauco Faria, na Rádio Brasil Atual.
Para Marques, desde a redemocratização o Brasil tem trabalhado para consolidar um campo da segurança pública que “pense a polícia”. Na sua opinião, a intervenção federal militar no Rio de Janeiro, feita por Michel Temer, jogou “no lixo” todo esse esforço civil e policial, tanto da academia quanto das forças policiais e da secretaria de Segurança Pública do estado.
Apesar dos erros, ele acredita que a intervenção era necessária, porém, uma intervenção civil, pensada a partir da inteligência policial acumulada sobre o território. E citou exemplos de intervenções que ocorrem com frequência em determinadas cidades dos Estados Unidos, mas com objetivos claros e orçamento específico.
“Aqui não, aqui optou-se por fazer uma intervenção mais abrangente, onde se colocou todo o aparato da segurança pública do Rio de Janeiro sob a liderança militar”, aponta. Para ele, é preciso daqui pra frente criar as condições para os órgãos de segurança pública do Rio de Janeiro se reorganizarem. Todavia, ponderou que isso não pode acontecer às custas do aumento da letalidade policial e dos indicadores criminais.
“Ao mesmo tempo que isso desgasta o poder do interventor, também reforça que o Estado não dá conta do recado nem com essa última instância que são as Forças Armadas. É delicado o momento do Rio de Janeiro, com tiroteios em lugares que não aconteciam antes”, pontua Ivan Marques, dando como exemplo um caso recente no bairro de Botafogo, na zona sul da cidade.
“É preciso ter muito cuidado quando se usa as Forças Armadas para tratar um problema que é de segurança pública. Em princípio, não se usa as Forças Armadas pra esse tipo de questão, se usa a força e a inteligência policial, e o Brasil tem plena capacidade de se organizar para ter esse tipo de ferramenta à disposição de intervenções pontuais para alterar a situação de violência e extrema ineficiência das políticas públicas de segurança Brasil afora.”
Fonte: Rede Brasil Atual