Para o autor do requerimento da reunião, senador Paulo Paim (PT-RS), há predominância de brancos na política brasileira e isso reflete de forma negativa nas ações afirmativas em prol do protagonismo negro.
– Queremos saber como será a participação da comunidade negra no fundo partidário. A pobreza tem cor. O negro, geralmente, não tem estrutura financeira para se candidatar e se eleger – argumentou.
O presidente do Núcleo de Pesquisas Clóvis Moura da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo, Tadeu Kaçula, citou dados para demonstrar a pouca representatividade negra nas esferas do poder no país.
– Dos 513 deputados federais, 24 são negros. Dos 81 senadores, três são negros. Dos 5.570 prefeitos, 1.604 são negros. Dos 57.838 vereadores, 24.282, são negros. Dos governadores dos estados e do DF, nenhum é negro. Dos ministros do STF, nenhum é negro. Não dá mais para deixar de discutir e participar, sobretudo diante do cenário político em que vivemos – afirmou.
Pautas
A representante do PSOL-DF Keka Bagno lembrou o assassinato da vereadora do Rio de Janeiro Marielle Franco e disse representar uma tentativa de impedir a ascensão do protagonismo negro.
– A gente precisa ocupar uma mesa com pessoas negras para falar de outras pautas que não sejam sobre negros. A gente é capaz de discutir outros assuntos. Quando uma mulher negra pega o microfone, há tentativa de infantilizar a fala dela. Como um partido político pode conseguir nos assegurar nossa plena dignidade do fazer político? Como a gente faz para não ficar em casa? – indagou.
Para os debatedores, é ainda mais importante discutir políticas públicas voltadas para a comunidade negra em ano de eleição. Para o ativista em direitos humanos da Educafro, Cesar Augusto dos Santos, é preciso mostrar que a população negra corresponde a 54% dos brasileiros.
– Se quisermos ser incluídos na sociedade brasileira, precisamos estar a frente de um projeto nacional para falar de sustentabilidade, reforma tributária e relações internacionais – opinou.
Ações afirmativas
A procuradora do Trabalho Valdirene Silva de Assis coordena a Coordigualdade, uma coordenação do Ministério Público do Trabalho responsável pela promoção da igualdade de oportunidades e pelo combate a toda forma de discriminação. Ela considera essa temática importante para toda a população e não só para os que são negros.
– O feminicídio contra a mulher negra aumentou 64%, enquanto contra a mulher branca diminuiu 10%. Os negros não têm representatividade nos postos de comando no mercado de trabalho e as mulheres negras sofrem mais assédio moral do que as brancas – comparou.
Como forma de reverter esse cenário, Valdirene de Assis recomenda que o Brasil seja atuante na política de ações afirmativas, assim como os Estados Unidos têm feito nas últimas décadas.
– Lá, as pessoas estão no mercado de trabalho, nas universidades, nos órgãos de imprensa e em programas de consciência social. Essas ações foram essenciais na construção da classe média negra americana e levaram um maior número de negros para universidades – disse.
Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)