Queixa frequente entre as empresas do ramo de logística, a escassez de motoristas para o transporte de cargas é uma realidade no Brasil. De acordo com duas pesquisas – uma realizada pela Associação Nacional do Transporte de Cargas e Logística (NTC & Logística) no começo desta década e outra da Fundação Dom Cabral, feita em 2016 – revelam que o deficit se manteve na média de 13% nos últimos anos.
As condições de trabalho precárias e a falta de valorização estão no centro da explicação para esse fenômeno. Não é difícil listar os motivos pelos quais as novas gerações não estão procurando a profissão de motorista de caminhão. As longas jornadas de trabalho, as estradas malconservadas, as filas imensas para o descarregamento e até mesmo a solidão da rotina nas rodovias têm afastado os trabalhadores dessa função.
Algumas empresas brasileiras colocam a culpa no trabalhador e alegam que o deficit existe por causa da ausência de mão de obra qualificada para operar veículos mais modernos. Por outro lado, o discurso empresarial não condiz com a prática, já que são poucas as iniciativas de formação e habilitação que partem das corporações.
Soluções
O deficit de motoristas disponíveis para o transporte de cargas geralmente é abordado pelo olhar do empresariado. Quando se analisa o fenômeno a partir da ótica do trabalhador, é possível imaginar soluções que podem amenizar o cenário. O problema é que nem sempre os empregadores veem essas saídas com bons olhos, pois elas demandam a redução de seus lucros. Estamos falando da valorização dos salários, do investimento na estrutura das cabines, do cumprimento de todos os direitos trabalhistas etc.
Igualmente afetado pela escassez de motoristas, o ramo de logística dos Estados Unidos encontrou a saída para o problema na valorização do trabalhador. Grandes empresas de transporte norte-americanas passaram a investir na personalização das cabines dos caminhões para garantir mais comodidade e segurança aos empregados. Em alguns casos, foram disponibilizados até sistemas de entretenimento para as horas de descanso.
Para o presidente da Fetropar, João Batista da Silva, esse é um exemplo nítido do que acontece com um setor econômico quando ele desvaloriza os trabalhadores que o movem. “As empresas precisam entender que, se as condições de trabalho não forem melhores, esse deficit vai continuar existindo. Se elas oferecessem uma estrutura melhor e valorizassem a categoria, não tenho dúvidas de que o cenário seria outro”, analisa.
Fonte: Fetropar