Depois da proibição da anfetamina pelos caminhoneiros, muitos apelaram para o mercado negro. Alguns chegam a usar crack e cocaína.

Tem um perigo a mais rondando as estradas brasileiras. E é um efeito colateral da proibição do uso de anfetaminas pelos caminhoneiros. Muitos passaram a consumir outras drogas, para não pegar no sono.

“Eu me vejo viúva de um marido vivo. Tá sempre brigando, tá sempre mal humorado”, afirmou uma mulher que não quis se identificar.

O desabafo é da mulher de um caminhoneiro que usa drogas para espantar o sono.

“Eu fui de São Paulo a Fortaleza, Fortaleza – Natal, Natal – Salvador, Salvador – São Paulo, São Paulo – Santa Catarina. Isso deu perto de uns 15 dias sem dormir”, desabafou um caminhoneiro.

Um velho conhecido dos caminheiros que dirigem dias a fio é o rebite, você já ouviu falar, né? É o apelido de remédios à base de anfetaminas, que deixam a pessoa ‘mais ligada’.

Mas depois que a Anvisa proibiu essas drogas, muitos motoristas apelaram para o mercado negro. E pior, alguns começaram a usar outras drogas para não dormir ao volante.

“A turma que eu conheço faz risco de cocaína no documento do caminhão, tem muito motorista na pedra (CRACK) hoje”, contou um motorista.

Um caminhoneiro que já usou crack, fala dos efeitos. E são assustadores.

“Quando você fumou, dali a um minuto ou dois, você tem aquela visão de que ‘vai’ vir pessoas te pegar. Nessa visão, você liga o caminhão e tu ‘sai’ dali a mil. Tu ‘perde’ a noção de tempo e espaço. No começo, eu usava assim pra poder virar a noite. E depois me viciei. Usei a cocaína, usei crack também, rebite, todos eles juntos pra dirigir”, disse o caminhoneiro.

“Nós registramos vários acidentes com caminhão tombando, sozinho, saída da pista. Acidentes que não há uma razão lógica para ocorrer”, contou Luiz Graziano, chefe de comunicação da PRF de SC.

Na BR 101, o Jornal Nacional encontrou frentistas, ajudantes de caminhoneiros e outras pessoas vendendo os mais diferentes tipos de drogas.

Jornal Nacional: ‘Tamo’ procurando um negócio pra manter a gente acordado até Porto Alegre. Vocês têm alguma coisa aí?
Homem: Crack.

Jornal Nacional: O que tu ‘tem’?
Homem: ‘Pó’.

Muitos caminhoneiros tentam justificar o uso das drogas. Eles dizem que a empresas fazem pressão.

“Tu ‘passa’ o dia carregando, quando chega a noite, o dono da empresa te chega e entrega a nota e diz: Oh, de manhã cedo tem que tá na entrega’”, disse um motorista.

“Eu acho que o motorista que se vê atingido por isso deveria denunciar, e ele não faz. Se ele participa, ele passa a ser conivente”, afirmou Pedro Lopes, vice-presidente de cargas da CNT.

Esse é um problema que atinge todo mundo que usa as estradas deste país, e o risco não é pequeno. É só fazer a conta: está andando de carro? De cada três caminhoneiros que passam por você, um pode estar drogado. Esta foi a conclusão de uma pesquisa feita pelo Ministério Público do Trabalho de Mato Grosso do Sul durante cinco anos com 207 motoristas.

“Nós testamos amostras de urina. Encontramos percentuais muito elevados. Cerca de 30% dos motoristas utilizando, principalmente cocaína”, contou o procurador do Ministério Público do Trabalho do MS Paulo de Moraes.

Um caminhoneiro admite: ele sabe que bota a vida de outras pessoas em risco.

Motorista: Você tem noção, só que é uma coisa que te domina mais forte. Eu já vi colegas meus, na minha frente dirigindo, que nós usamos juntos, daí tombou o caminhão.
Jornal Nacional: Morreu?
Motorista: Morreu.

 

Fonte: G1