As eleições de 2018 foram marcadas por um clima de ansiedade e aflição. Não é exagero dizer que foi o processo eleitoral mais polarizado e violento dos últimos 30 anos no país.  O foco na disputa pelo cargo de presidente da República, no entanto, ofuscou o importante debate sobre as mudanças na composição da Câmara dos Deputados e do Senado. Nesse ponto, infelizmente, os trabalhadores não têm muito o que comemorar.

Isso porque a bancada sindical na Câmara Federal diminuiu de 51 para 33 deputados. Os números são do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), com base nos dados oficiais da Justiça Eleitoral. A queda na representação dos trabalhadores na casa legislativa segue a tendência iniciada nas eleições de 2014, quando a bancada caiu de 83 para 51 membros.

Os líderes sindicais chegaram a ter espaço privilegiado no Congresso Nacional em outros períodos históricos, mas a representação vem caindo drasticamente. Esse cenário é resultado de uma série de fatores, mas dois são principais: a aprovação da Reforma Trabalhista no final de 2017 e o crescimento do discurso contrário aos direitos trabalhistas.

Ofensiva contra sindicatos

A Reforma Trabalhista, que atingiu mais de 100 direitos garantidos na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), afetou a estrutura e o funcionamento de muitas entidades. Sem a estrutura ideal, o movimento sindical não conseguiu investir em ações capazes de enfrentar os grandes empresários em pé de igualdade.

Hoje, depois de um ano de vigência da reforma, não há mais dúvidas de que ela foi aprovada justamente para fragilizar o poder de atuação dos sindicatos, ataque que afetou também a representação política dos trabalhadores. Esse cenário é ainda mais preocupante diante da retirada de direitos trabalhistas e sociais, aumento da informalidade e queda do poder de compra registrados no Brasil nos últimos anos.

Em segundo lugar, a redução da bancada sindical pode ser explicada pela atuação das elites empresariais do país. Elas gastam muito dinheiro para patrocinar um discurso contrário aos direitos dos trabalhadores. Isso enfraqueceu a percepção da importância da representação política da própria classe trabalhadora.

Esse cenário vem se construindo desde 2017, quando os poderosos e a grande mídia se aliaram para conseguir aprovar a Reforma Trabalhista. O fortalecimento desse discurso influenciou a composição do novo Congresso Nacional, que pode ser considerado um dos menos representativos para os trabalhadores. Membros da equipe do candidato eleito, Jair Bolsonaro, já afirmaram que irão passar o “rolo compressor” em quem tentar resistir à vontade do futuro governo. Isso é preocupante, especialmente quando projetos criados para retirar direitos dos trabalhadores estiverem em pauta.

Para o presidente da Fetropar, João Batista da Silva, a nova composição do Congresso Nacional exige muita mobilização dos trabalhadores. “Os trabalhadores são maioria no Brasil, mas isso não se reflete na política. Tanto que a bancada dos empresários é uma das maiores da Câmara dos Deputados. Essa desigualdade de representação prejudica a classe trabalhadora, que precisará lutar com mais força para garantir a manutenção de seus direitos”, defende.