Antropóloga e cientista político decidiram que a estrada poderia proporcionar o estilo de vida que desejavam: um destino por dia, juntos, em movimento

Imagine dar um chega para lá na poeira que se acumula sobre a rotina e mudar de profissão, de destino, de vida. Foi isso que a antropóloga Francine Rebelo, 26 anos, e o cientista político Luiz Antonio Guerra, 28, decidiram fazer. Depois de cumprirem todo o protocolo acadêmico, ela adiou o plano de fazer doutorado, ele largou um cargo público no estado de Goiás, e mudaram-se os dois para Jacareí (SP) para ganhar a estrada (e a vida) a bordo de um caminhão.

E antes que qualquer um parabenize o casal pela aventura, os dois reforçam que a escolha, embora pouco óbvia, foi fundamentada em razões práticas – o gosto pela estrada e a possibilidade de subsistência fazendo dela, ofício. Para os dois, a vida de caminhoneiro é a única a proporcionar o que o casal anseia: viajar por todo o Brasil, conhecer cantos, pessoas e gastronomias que, de outra forma, dificilmente conheceriam, e ganhar o suficiente para pagar as contas no fim do mês. O desejo de viver em movimento é tamanho que o lema da dupla é: “Estrada vamos, estrada somos”.

“Nós escolhemos uma nova profissão. Analisamos afinidades, vontades e necessidades financeiras e concluímos que podíamos fazer essa escolha. Não é uma loucura nem uma aventura. É uma forma de trabalhar, ganhar dinheiro e viajar. Milhares de homens e mulheres rodam o país de caminhão e ninguém é louco por isso”, argumenta Fran. É justo.

O apreço pela estrada não é de hoje. Fran é neta e filha de caminhoneiros. Desde pequena aprendeu que a estrada pode ser boa e ainda menina ansiava dirigir Brasil afora. Tonho, desde criança convicto de que seria motorista de caminhão quando crescesse, tratou de comprar uma Kombi para aplacar a vontade. O destino tarda, mas não falha.

À parte os desejos infantis, a ideia adquiriu forma quando Fran decidiu pesquisar mulheres caminhoneiras para o trabalho de conclusão do curso de Ciências Sociais. Ao experimentar a rotina da estrada com elas, a ficha caiu: a possibilidade de ser motorista era real. Com a chegada de “Tonho”, a equação ficou completa: encontrou nele o companheiro disposto a viver na boleia e o estímulo que faltavam para dividir o volante. A estrada pode ser feita de saudade, mas não de solidão.

Por enquanto, nada de atravessar o país de cabo a rabo – um quilômetro de cada vez. As emoções ficam por conta das muitas idas ao trânsito megalomaníaco de São Paulo e às serras e congestionamentos do Rio de Janeiro – cruzar grandes rodovias e ruas congestionadas – como a Dutra, a Dom Pedro I e a Marginal Tietê – é sempre uma aventura. A ambição da dupla agora é dirigir um caminhão maior, que tenha alguns confortos, como cama, e conseguir uma viagem longa, daquelas de passar mais de mês desbravando o interior.

Fonte: Gazeta do Povo