Protesto foi realizado às 15h00 na Praça Rui Barbosa e nos terminais Pinheirinho e Cabral

Aconteceu nesta terça-feira (17/11) o protesto dos motoristas e cobradores de Curitiba e Região Metropolitana contra a violência no transporte coletivo. O principal ato aconteceu na Praça Rui Barbosa, às 15h00. Também ocorreram entregas de materiais de conscientização nos terminais Cabral e Pinheirinho. Há muito tempo os motoristas e cobradores sofrem com a violência no dia a dia de trabalho. Estatísticas do Setransp (entidade patronal) e Urbanização de Curitiba S/A (Urbs), empresa de economia mista responsável pela gestão do transporte na região, apontam 7,71 assaltos por dia e 2.097 assaltos entre janeiro e setembro de 2015, contra trabalhadores e usuários do transporte coletivo. O Sindimoc estima, entretanto, que o número real seja bem maior, considerando que muitos casos sequer chegam ao conhecimento das autoridades, não entrando nos dados oficiais. O ato desta terça paralisou o transporte coletivo na região central por cerca de uma hora.

“Estamos pedindo socorro. Todos os dias algum de nossos companheiros ou companheiras é assaltado, ameaçado e sofre a violência na pele. Saímos para trabalhar e não sabemos se voltaremos para casa, para nossas famílias”, desabafa o presidente do Sindimoc, Anderson Teixeira.

Ele relata o estresse da categoria e a existência de dezenas de motoristas e cobradores tetraplégicos, incapacitados e traumatizados, vítimas de tiros e facadas dentro do ônibus. “Exigimos medidas enérgicas do poder público e das autoridades responsáveis tomem medidas concretas para reduzir a criminalidade no transporte público”.

RELATOS DE TRABALHADORES

“Levei um tiro no pé e não levei mais porque acabou a bala do assaltante”

Cobradora

“Nós saímos do terminal, na minha última viagem do dia, num domingo. Ele entrou, colocou o revólver nas costas de um passageiro e anunciou o assalto. Mandou fechar todas as portas e o ônibus ficou parado. Então ele se deparou com um policial que estava de pé dentro do ônibus. Os dois trocaram tiros, mas não se acertaram e todo mundo se jogou pro chão. O bandido também se deitou, enquanto eu ainda estava na minha cadeira. Ele falou para eu não olhar para ele e me deu um tiro no pé. Depois levantou e foi me dar outro tiro, mas acho que não tinha mais bala. Então ele saiu correndo sem conseguir levar o dinheiro. Eu não conseguia falar, nem sair da cadeira. Me levaram direto pro hospital. Até hoje, todo dia que trabalho, fico pensando “será que esse vai assaltar? ”, quando os passageiros entram. Já aconteceu há dois anos e ainda tenho dificuldade para caminhar”.

“Fui espancado por menores que invadem ônibus todos os dias”

Motorista

“Há tempos que um grupo de adolescentes invadem os biarticulados. Uns dias antes tinham tentado agredir uma cobradora e eu não deixei. Depois disso começaram a pegar ônibus comigo e ficavam fazendo baderna, gritando e xingando. Um dia abri a porta e fui falar com eles. Aí vieram me agredir. Eram pelo menos uns cinco. Me seguraram e deram soco. Continuam todo dia nos terminais, fazendo bagunça. Está sendo muito frequente assaltos e arrastões dentro dos biarticulados. Vários companheiros já tiveram revólver na cabeça e limparam seu ônibus”.

“Tentei impedir que acertasse minha barriga e levei uma facada na mão”

Motorista

“Entraram três passageiros e eu vi que um deles, o que estava de costas pra mim, estava demorando muito para passar a catraca. Quando eu parei para prestar atenção eu vi que ele estava mexendo na caixa da cobradora. Ele pegou todo o dinheiro e queria sair do ônibus o mais rápido possível. Ele estava muito nervoso e começou a gritar e a me xingar, mostrou a faca e os passageiros ficaram desesperados. Ele queria que eu abrisse a porta, mas o ônibus quando está em movimento não permite. Eu levantei para falar com ele e ele tentou me golpear. Eu tentei impedir que acertasse minha barriga, mas acabou rasgando a minha mão, então eu abri a porta e ele saiu correndo desesperado.”

“Já sofri cinco assaltos e em todos estavam armados”

Cobrador

“Eu trabalhei de manhã e à noite naquele dia. O rapaz chegou por volta das 10 da noite, pegou o meu crachá e fechou o validador, porque ele sabia que tinha muito dinheiro ali. Por isso até acham que é ex-funcionário da empresa. Ele estava armado, mandou eu levantar os braços e disse que se eu me mexesse ele ia me furar. A gente fica ali sentado na estação sem poder se defender, sem poder fazer nada. Ei já sofri cinco assaltos e não teve um em que o cara não estivesse armado.”

Fonte: Sindimoc