Na abertura da 9ª Semana de Valorização da Primeira Infância e da Cultura da Paz, nesta terça-feira (22), no Senado, o recado dado é que os Objetivos do Milênio propostos pela Organização das Nações Unidas (ONU) só serão atingidos se a sociedade compreender a importância dos cuidados maternos, principalmente nos primeiros mil dias de vida da criança, mas também até o 6º ano de idade. O resultado da falta dos cuidados iniciais ao bebê, segundo os palestrantes, é a violência que afeta o país.

Dos oito Objetivos do Milênio estabelecidos pela ONU em 2000, três estão relacionados à primeira infância: redução da mortalidade infantil, melhoria da saúde das gestantes e educação básica de qualidade para todos.

A implementação do Marco Regulatório da Primeira Infância (Lei 13.257/2016), por meio do Programa Infância Feliz, é outro desafio a ser vencido, segundo o senador José Medeiros (PSD-MT), presidente da Frente Parlamentar da Primeira Infância.

— O Bolsa-Família é importante, o Minha Casa, Minha Vida é importante, mas esse

[Infância Feliz] é o mais importante programa na área social. Temos que transformar o programa não em programa de governo, mas em programa de Estado — disse Medeiros.

Para o ministro do Desenvolvimento Social e Agrário, Osmar Terra, a implementação do Infância Feliz vai requerer de governadores e prefeitos eleitos uma mudança de cultura. Ele ressaltou que o programa é uma oportunidade única de criar políticas públicas voltadas ao desenvolvimento da criança e de suas capacidades, “feito a muitas mãos”, independentemente de cor político-partidária e ideológica, pois vai requerer o empenho de todos os atores sociais envolvidos.

— Vamos atingir com o programa 4 milhões de famílias do Bolsa-Família. A meta para 2017 é de 1 milhão de crianças. Iremos aumentar a visitação familiar, de 3 mil atendimentos anuais hoje para 3 mil [visitas] semanais — disse.

Para isso, reforçou, será necessária a colaboração de assistentes sociais, professores e enfermeiros, em um trabalho multissetorial que envolverá recursos financeiros de sua pasta e dos Ministérios da Saúde, da Cultura e da Educação.

Desenvolvimento infantil

Laurista Corrêa Filho, pediatra e neonatologista, enumerou os desafios a serem enfrentados, presentes nos temas que serão discutidos no evento: novas constituições familiares, importância do ato de brincar, influência da era digital no desenvolvimento infantil, transmissão transgeracional, mediações sociais e consequências das separações judiciais dos cônjuges.

José Martins Filho, médico especializado em pediatria social e aleitamento materno, presidente da Academia Brasileira de Pediatria (ABP), utilizou vídeos para demonstrar o desenvolvimento do cérebro humano e destacar que a interação do bebê com a mãe e cuidadores é fundamental para seu desenvolvimento saudável. Já a criança que não recebe acalentamento, enfatizou, pode sofrer de “estresse tóxico precoce”.

— Quando a criança vai para casa [após o nascimento], nós a deixamos sozinha no quarto. O que acontece com o cérebro e as sinapses dos neurônios? Se ela logo é acalentada, aprende a lidar com o estresse. Crianças que sofrem abusos e negligência contínuos têm a resposta ao estresse continuamente ativada — disse.

O pediatra criticou o fato de muitos hospitais do país não colocarem a criança próxima à mãe nas primeiras horas após o nascimento, medida fundamental, segundo ele. Também censurou a ida de crianças de poucos meses para creches, sendo apartadas dos pais, pois, disse, sua imunidade só se completa aos dois anos de idade.

Lisle Lucena, presidente da Comissão de Valorização da Primeira Infância no Senado, salientou que os dez anos de eventos com temas relacionados à primeira infância trouxeram uma agenda positiva para o Senado.

Mesa

Além do ministro Osmar Terra, do senador José Medeiros e de Lisle Lucena, integraram a mesa de abertura o coordenador da Secretaria Executiva da Rede Nacional Primeira Infância, Claudius Seccon; o pediatra e assessor legislativo da Rede Nacional Primeira Infância, Vital Didonet; o conselheiro da Embaixada da França Alain Bourdon; e Sérgio Sarrubbo, representante da Sociedade Brasileira de Pediatria. Compareceram ainda ao evento o senador Waldemir Moka (PMDB- MS) e a diretora-geral do Senado, Ilana Trombka.

Cinco painéis irão discutir temas relacionados à primeira infância: A implementação do Marco Legal da Primeira Infância; o brincar tradicional e o brincar tecnológico; Infância em famílias homoafetivas; Primeira infância e o impacto do passado e do presente no futuro das crianças do milênio; Menores e minorias: infâncias invisíveis.

Às 10h desta quarta-feira (23), haverá audiência pública conjunta das comissões de Cultura e Esporte (CE), de Assuntos Sociais (CAS) e de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH) sobre cuidado integral na primeira infância.

Oficinas

A Semana promoverá ainda dez oficinas no dia 24: Encontro com pediatras e psicóloga: a família em construção; Detecção precoce de sinais clínicos de risco psíquico para o desenvolvimento infantil; Mães pela diversidade – conhecendo e acolhendo nossos filhos LGBT; A responsabilidade dos pais no processo de divórcio – como a pedagogia do consenso pode preservar as relações entre pais e filhos; Trabalhando com os desafios da diversidade; Um mundo suficientemente bom para pais suficientemente bons; A nutrição nos primeiros mil dias e o desenvolvimento da criança; Slingando com o papai – a importância da presença do pai nos mil dias de vida do bebê; Brincando em diferentes fases do desenvolvimento infantil; e Primeiras músicas e primeira infância.

O evento tem o apoio da Embaixada de França, da Universidade Descartes de Paris e da Fundação Maria Cecília Souto Vidigal.

Outras informações sobre a Semana podem ser obtidas no endereço abaixo:

https://www12.senado.leg.br/institucional/programas/primeira-infancia/listasemanas?campanha=ix-semana

 

Fonte: Agência Senado