Os principais concorrentes ao Palácio do Planalto estão de olho nos partidos mais valiosos no grande espectro eleitoral. Se sempre foi relevante, a disputa para angariar uma aliança ganha novo peso nesta eleição atípica pela pulverização de candidatos, pela ausência da polarização PT-PSDB, que ocorria desde os anos 90, e pelas regras ainda recentes, como o veto ao financiamento da campanha por empresas.

Cada sigla chama a atenção com as armas de que dispõe: dinheiro (o tamanho do fundo eleitoral de cada legenda), o tempo na propaganda de rádio e TV (proporcional à bancada que elegeram), além da musculatura da máquina que comandam (a rede de políticos aptos a se engajarem na campanha eleitoral). Nas negociações, que entram na reta final nesta sexta-feira e podem se estender até 5 de agosto, oferece-se um espaço na coligação, promete-se meia dúzia de cargos, sugere-se participação no programa de Governo e, por fim, chega-se a um consenso. Na vitrine, quatro estão entre os troféus mais buscados pelos presidenciáveis. São eles: o Partido da República (PR), o Partido Progressista (PP), o Partido Socialista Brasileiro (PSB) e o Democratas (DEM).

Abaixo, o perfil dessas legendas. A campanha terá duração oficial de 51 dias, e, além disso, como as doações eleitorais empresarias estão vetadas, o poder financeiro estará mais concentrado na mão das cúpulas partidárias que administram os fundos a que as siglas têm direito.

PR – De olho nos extremos

Dirigido por Valdemar Costa Neto, um político condenado pelo mensalão petista, o PR faz um jogo controverso. Paquera tanto os esquerdistas do PT, de Luiz Inácio Lula da Silva, como os de extrema-direita do PSL, do militar da reserva Jair Bolsonaro. “Ou ficamos na centro direita ou na centro esquerda. Não vejo problemas”, afirmou José Rocha, líder do PR na Câmara dos Deputados.

Acostumado a eleger bancadas consideráveis, Costa Neto se faz a seguinte pergunta: qual aliança é capaz de render maior número de deputados federais? Atualmente, o PR tem 40 deputados. Quanto mais parlamentares eleitos, maior o tamanho dos fundos partidário (que sustenta os partidos) e eleitoral (que banca as campanhas). Para este ano, o PR tem 113,1 milhões de reais para investir na disputa. E ainda oferece 47 segundos de tempo de propaganda.

O apoio a Bolsonaro, em princípio, estava condicionado a que o senador Magno Malta (PR-ES) fosse o vice dele, algo que o capixaba já abriu mão. Outra alternativa seria colocar o empresário Josué Gomes (PR-MG), filho do ex-vice-presidente José Alencar, na chapa. O problema é que o empresário não quer se vincular ao militar. E vice-versa. Se seguir nessa linha, o apoio seria sem a indicação do vice.

Na linha de apoio ao PT, a direção do PR quer convencer os petistas a abrirem mão da candidatura própria – já que Lula provavelmente não terá condições de disputar – e apoiar o nome de Josué como cabeça de chapa. A maioria dos que defendem essa tese são políticos do Nordeste. “Aqui é difícil brigar contra Lula e o PT”, afirma Rocha, que é da Bahia.

PP – Da Lava Jato ao altar

Um dos partidos com mais nomes investigados pela Operação Lava Jato, o PP é um dos mais quistos pelos presidenciáveis. Ano a ano vê seu poder crescer. Na última janela partidária, em abril passado, recebeu 12 novos deputados federais e atingiu a marca de 49 parlamentares na Câmara. A promessa de distribuição dos recursos para seus políticos concorrerem à reeleição, a entrega do comando da legenda na esfera estadual, assim como a promessa de participação no Governo federal no caso de ajudarem na eleição presidencial foram algumas das moedas de troca dos dirigentes para verem a sigla ganhar adeptos.

Nesta disputa, os progressistas se dividem entre apoiar Ciro Gomes (PDT) ou Geraldo Alckmin (PSDB) – no momento, a tendência maior é seguir para o pedetista. “O Alckmin não vai decolar e não queremos nos afundar com ele”, afirmou um líder do PP que participa das negociações. Tudo pode mudar, no entanto, até o início das convenções. Ciro continua a promover calafrios com suas falas, como a desta quarta-feira, num evento com empresários em São Paulo, quando chamou de “filho da puta” o promotor (na verdade, é uma promotora, Maria Bernardes Andrade) que pediu investigação contra ele por injúria racial após o pedetista chamar o vereador Fernando Holliday de “capitão do mato”.

Apesar da ligação com a Lava Jato, 31 senadores e deputados do partido são alvo da operação, tanto o PDT quanto o PSDB querem dar os braços ao PP. Ciro e o presidente pedetista negociam a vice em sua chapa com o empresário Benjamin Streinbuch, filiado ao partido. Se cederem a vaga de vice para Alckmin, o nome seria a gaúcha Ana Amélia. Além de um candidato a vice, os progressistas teriam a oferecer seus 52 segundos de tempo de TV e parte dos 131 milhões de reaisde fundo eleitoral.

PSB – Rachas que podem atrapalhar

Quando o ex-ministro Joaquim Barbosa, do Supremo Tribunal Federal, surgiu como eventual candidato do PSB à presidência, a legenda parecia que iria assumir um protagonismo semelhante ao da eleição de 2014, quando figurou na terceira posição na disputa presidencial. A desistência de Barbosa fez com que o PSB passasse a ser cotejado tanto por legendas de esquerda quanto de direita. É alvo de ao menos três concorrentes: Ciro Gomes (PDT)Geraldo Alckmin (PSDB)Marina Silva (REDE). Ainda assim, disputas regionais podem fazer com que o PSB se abstenha de anunciar um apoio formal.

Em uma escala de 0 a 10, conforme um dirigente da alta cúpula socialista, a chance de se firmar uma parceria com Marina é de 0,1; com Alckmin de 1. E com Ciro, de 8. O outro 0,9 seria para o improvável voo solo, sem coligações. De 24 presidentes de diretórios regionais consultados no mês passado, 17 optaram pelo nome de Ciro. Os outros sete se calaram.

Três empecilhos estão no caminho do pedetista: os governadores de Pernambuco, Paulo Câmara, e do Distrito Federal, Rodrigo Rollemberg. Câmara negocia uma aliança com o PT local para tentar frear a candidatura de Marília Arraes (PT) ao Governo. Enquanto Rollemberg é um defensor de Ciro, os pedetistas da capital da República não o veem com bons olhos. Temem que sua impopularidade afete na eleição para o Senado, para a Câmara dos Deputados e para a Câmara Distrital. Além disso, em São Paulo, o socialista Márcio França, pré-candidato ao Governo, é muito mais próximo do PSDB, por ser vice-governador de Geraldo Alckmin (PSDB). Dificilmente França deixaria de subir no palco de Alckmin, que é pré-candidato à presidência, para participar de alguma outra campanha. Por isso, ainda é possível que o partido faça uma coligação nacional e libere seus Estados para compor suas próprias chapas.

Em Pernambuco, Estado mais representativo do PSB, o diretório defende com unhas e dentes uma aliança com os petistas. Na semana passada, durante uma breve visita da presidenta do PT Gleisi Hoffmann a Paulo Câmara, o governador afirmou que “o pernambucano tem uma gratidão pelo ex-presidente Lula” e que, por isso, fará “todos os esforços para que essa aliança se concretize”. Na verdade, a candidatura de Marília Arraes tem potencial para minar a reeleição do governador. Um membro da alta cúpula socialista no Estado disse que, não fosse a candidatura da neta de Miguel Arraes, o flerte do PSB – partido que apoiou o impeachment de Dilma Rousseff – com o PT não seria tão grande.

A fala de Paulo Câmara causou certo frisson no meio político. Ao EL PAÍS, o presidente do partido, o pernambucano Carlos Siqueira, tentou minimizar o passo do governador rumo ao abraço dos petistas. “Ninguém individualmente decide pelo partido”, disse. De acordo com ele, a posição do PSB só será definida nas reunião dos diretórios, no dia 30 de julho, e, posteriormente, na convenção nacional, em 5 de agosto. “Nunca foi descartada nenhuma aliança”, diz. “Todas as propostas que chegarem à mesa serão debatidas”.

O peso do PSB nesta eleição é de 118 milhões de reais no fundo eleitoral e de 47 segundos de tempo de TV. Além da capilaridade oferecida por seus cinco governadores, 26 deputados federais e quatro senadores.

DEM – Possível rompimento com tucanos

No Governo Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), o DEM, então PFL, era tido como um apêndice do PSDB. Esteve ao lado dos tucanos em quase todas as eleições nacionais ou locais. No ano passado, depois de ver sua bancada minguar no Legislativo, decidiu mudar a estratégia. Buscaria ter destaque novamente no cenário nacional.

O primeiro passo foi eleger o presidente da Câmara, Rodrigo Maia. O segundo, ampliar sua bancada na Casa. Elegeu apenas 21 dos 513 deputados federais e, agora, conta com 43. O terceiro, transformar Maia em um líder nacional capaz de se cacifar de disputar a Presidência da República. Neste quesito, falhou, mas conseguiu colocar Maia como uma das lideranças de uma parte do bloco rebatizado de Centrão, que além do DEM e do PP tem ainda PRB e Solidariedade que tentam negociar de maneira conjunta os apoios, numa espécie de supertroféu das convenções, se essa coesão permanecer.

Maia é bem visto pelo mercado financeiro e por parte do empresariado. Mas derrapa nas pesquisas eleitorais. Não atinge nem 2% de preferência do eleitorado. A estratégia dos Democratas foi oferecer seus 30 segundos de tempo de TV e parte dos 89,1 milhões de reais de fundo eleitoral para algum concorrente. Como não querem mais ser vistos como um braço do PSDB, a principal alternativa é se aliar a Ciro Gomes (PDT).

O que, em um primeiro momento, trava a conversa com o pedetista é a política econômica do pedetista. De clara tendência à esquerda, crítico das reformas trabalhista e da Previdência, Ciro é a antítese do que boa parte do DEM defende. Para atrair os democratas, Ciro teria de mexer em seu programa econômico e moderar a língua. Ele já criticou figuras do DEM, como o deputado Pauderney Avelino e o vereador paulistano Fernando Holiday. Ao primeiro, já pediu desculpas formais, que foram aceitas. Ao segundo, não. No caso de seguir com o PDT, o DEM apenas comporia a coligação. Na que parece pouco provável aliança com Alckmin, o DEM ofereceria como vice o deputado pernambucano Mendonça Filho, ex-ministro da Educação de Michel Temer.

Fonte: El País