É impossível pensar no process de urbanização do Brasil sem falar da indústria automobilística. Desde o século passado, esse setor econômico tem sido peça-chave na formulação de políticas de transporte que definem pontos importantes da mobilidade urbana brasileira.
Com a última onda de incentivos a esse ramo, o país viu sua frota de carros particulares aumentar consideravelmente. Como não há infraestrutura que dê conta de tantos veículos, o trânsito ficou mais caótico e os brasileiros ficaram reféns de um deslocamento ineficiente.
O excesso de incentivos à indústria automobilística de um lado e o descaso com o transporte público do outro afetam diretamente o funcionamento da cidade. Não é difícil constatar de que maneira essa distinção se materializa no cotidiano: nas ruas e avenidas, os meios de transporte coletivos têm pouca ou nenhuma prioridade.
Mesmo sendo prejudicial, o veículo particular continua com a maior fatia de espaço público, o que cria uma desigualdade no espaço público que não se justifica.
Lógica irracional
A distribuição do espaço público na cidade segue uma lógica pouco racional. Com capacidade para transportar de 50 a 60 pessoas de forma minimamente confortável, o ônibus fica isolado em um mar de carros particulares, que transportam menos pessoas e causam mais congestionamentos.
Especialistas em mobilidade urbana defendem a democratização desse espaço, ou seja, uma distribuição que priorize meios de locomoção que ocupam uma área menor e transportam mais cidadãos.
Os problemas causados pelo excesso de veículos particulares também estimula a poluição do ar nas grandes cidades e, consequentemente, afeta a qualidade de vida de quem passa muito tempo no trânsito. Além de uma questão de espaço, priorizar meios coletivos de transporte também reduziria a emissão de gases poluentes.
Essa reformulação, no entanto, depende diretamente de um investimento pesado no transporte público. Além da renovação e da modernização da frota – como a fabricação e distribuição de veículos que emitam menos poluentes –, os ônibus precisam ter prioridade no tráfego, com faixas exclusivas e eficientes.
Em conjunto com essas medidas, a cobrança de uma tarifa de preço justo e o fim da superlotação nos coletivos amenizariam os problemas da mobilidade brasileira.
Para o presidente da Fetropar, João Batista da Silva, o Brasil está colhendo os frutos de decisões políticas passadas, que optaram por priorizar o transporte individual e menosprezaram os meios coletivos. “A frota de veículos particulares mais que dobrou nos últimos anos e, hoje, vemos que as cidades brasileiras não comportam essa quantidade de carros. Para solucionar os problemas de mobilidade urbana, é necessário inverter as prioridades de investimento e valorizar o transporte coletivo”, defende.
Fonte: Fetropar