A intensa urbanização e motorização dos grandes centros urbanos estão diminuindo a qualidade de vida das cidades por vários fatores. A qualidade do ar, por exemplo, vem caindo gradativamente. As emissões de gases poluentes de carros e motos aumentaram no Brasil nas últimas duas décadas: o crescimento foi de 192% entre 1994 e 2014.
Impulsionada pelos incentivos à indústria automobilística e pelo aumento do poder de compra da população, essa ampliação demonstra que estamos em perigo. Mesmo que represente, em alguma medida, uma melhora na qualidade de vida dos cidadãos, o aumento da circulação de veículos particulares afeta diretamente as propriedades do ar.
Na contramão do Brasil, outros países estão revendo as políticas de mobilidade. Pressionado pela União Europeia (UE), o governo da Alemanha, por exemplo, afirmou que está cogitando estabelecer a gratuidade do transporte público nas suas cidades que mais emitem gases poluentes. O objetivo da iniciativa é encorajar os cidadãos a utilizar meios coletivos de transporte e, consequentemente, diminuir a emissão de dióxido de carbono, nitrogênio e de outras substâncias.
É fácil imaginar os benefícios que essa medida traria ao Brasil. Na cidade de São Paulo, os carros transportam apenas 30% dos paulistanos, mas são responsáveis por 73% das emissões de gases poluentes. A pesquisa é do Instituto de Energia e Meio Ambiente (Iema).
Inversão de prioridades
A culpa pela poluição do ar no Brasil não pode ser atribuída ao brasileiro individualmente. A gestão deficitária do transporte público – cujos contratos são alvos frequentes de investigações por conta da corrupção e do superfaturamento – é um dos pontos principais para entender esse cenário.
Além disso, o descaso com os meios coletivos de transporte representa pelo menos dois interesses: o das empresas que administram os sistemas de transporte coletivo e o da indústria automobilística. Sem alternativa, muitos brasileiros optam pelo veículo particular, algo que incrementa os lucros desse setor econômico, mas que afeta diretamente o meio ambiente.
Para o presidente da Fetropar, João Batista da Silva, iniciativas como a da Alemanha comprovam o que especialistas em trânsito vêm alertando há muito tempo: investir em transporte coletivo é o primeiro passo para melhorar a qualidade de vida nas cidades.
“O cenário brasileiro não vai mudar se não houver luta política. Esses interesses econômicos e corporativos barram a construção de uma política de mobilidade inclusiva e ambientalmente responsável. Toda a população, inclusive os trabalhadores do setor rodoviário, precisam se mobilizar contra o descaso com os meios coletivos de transporte”, afirma.
Fonte: Fetropar