O Brasil é referência na exportação de carnes para o mundo e os maiores importadores de carne bovina e de frango são países árabes. Para exportar proteína animal aos árabes, no entanto, o produto precisa estar certificado com todas as especificações, como a certificação halal, que significa permitido para o consumo.

O conceito de halal reúne uma série de padrões, como a saúde do animal, as técnicas específicas de abate, a não adoção de trabalho infantil ou escravo pelos estabelecimentos, entre outros. O Brasil possui 90% dos frigoríficos habilitados para produzir proteína animal halal e seus derivados, de acordo com a Câmara de Comércio Árabe-Brasileira.

O preço da produção

Quem consome essa proteína exportada ou mesmo quem compra nos supermercados não imagina, porém, que por trás do produto milhares de trabalhadores adoecem e se lesionam gravemente todos os dias nos frigoríficos. Grande parte desses trabalhadores são estrangeiros muçulmanos, principalmente haitianos e africanos de nações islâmicas, mas há também paraguaios. Em 2015, foram 14.535 novos haitianos que chegaram ao Brasil, segundo dados da Polícia Federal.

“Os trabalhadores estrangeiros estão sujeitos a entrar em um círculo de superexploração, pois há grande carência de mão de obra para abate halal. A função desses trabalhadores, muitas vezes, é carregar caixas na parte mais fria do frigorífico, onde ninguém quer trabalhar”, afirma a presidente do Sintrial Dois Vizinhos, Marilene Martins Moreira.

A presidente da entidade explica também que, além da exposição constante ao frio, trabalhadores em geral de frigoríficos estão sujeitos a cortes graves com facas e a doenças causadas por movimentos repetitivos. No caso específico dos imigrantes, existe uma expectativa de remuneração de até seis vezes mais que o salário recebido no país de origem, mas acabam trabalhando por propostas com ganhos bem inferiores.

Existem leis e normas que protegem a saúde dos empregados, mas que nem sempre são devidamente cumpridas pelas empresas, pois isso encarece o processo produtivo e reduz as margens de lucro. Mas é possível mudar a realidade do trabalho em frigoríficos, reduzindo o ritmo de trabalho, inserindo pausas ao longo do expediente e implementando inovações tecnológicas.

No caso dos estrangeiros, eles precisam estar regularizados para terem melhores condições de trabalho e seus direitos garantidos. As empresas, porém, isentam-se dessa responsabilidade. “Estamos sempre atentos porque muitos empregadores não garantem alimentação, alojamento e integração dos estrangeiros contratados”, reitera Marilene.

Fonte: Sintrial Dois Vizinhos