A luta das mulheres por mais direitos, igualdade e melhores condições de vida e de trabalho ainda é crescente nos dias de hoje. O Dia Internacional da Mulher, celebrado em 8 de março, é um importante marco na história e serve como momento de refletir e reforçar as pautas das mulheres em nossa sociedade.

Com jornadas de trabalho abusivas e salários baixíssimos, no fim do século 19 as operárias da Europa e dos Estados Unidos deram o pontapé para o fortalecimento do movimento feminista. Além das questões trabalhistas, o direito ao voto e à igualdade econômica e política também passaram a ser cobrados por elas. Mas apenas em 1921 foi oficializado o Dia Internacional da Mulher.

Desde então, as mulheres tiveram conquistas fundamentais em diversos aspectos, como o direito ao voto e à participação nas instâncias políticas, o acesso à educação e a ampliação de espaço no mercado de trabalho.

Ainda assim, as mulheres continuam sofrendo preconceito e desigualdade em relação aos homens, principalmente no mercado de trabalho, tanto no Brasil quanto em outros países.

A Federação dos Trabalhadores em Transportes Rodoviários do Estado do Paraná (Fetropar) valoriza a luta das mulheres e atua intensamente em busca de mais avanços nos direitos das trabalhadoras rodoviárias.

“Sabemos que as mulheres enfrentam muitas dificuldades, e no setor rodoviário não é diferente. Elas lidam com o preco08nceito no dia a dia. Nosso desafio é superar esses problemas junto com nossos sindicatos filiados”, afirma o presidente da Federação, João Batista da Silva.

TRABALHO IGUAL, SALÁRIOS DIFERENTES

A legislação brasileira é clara ao estabelecer a igualdade de direitos entre os sexos; a Constituição Federal (CF), inclusive, proíbe a diferença de salários, de exercício de funções e de critério de admissão por motivo de sexo. Mas a realidade ainda é bem diferente do papel.

As oportunidades de ingresso no mercado de trabalho, a diferença de salários e a pouca participação em cargos de chefia ainda são grandes barreiras a serem superadas pelas trabalhadoras.

A desigualdade entre homens e mulheres sempre existiu. Historicamente, elas ocupam cargos menores e, quando conseguem os mesmos postos dos homens, recebem muito menos para realizar o mesmo serviço.

O problema é que essa realidade está bem distante de melhorar. De acordo com uma projeção feita pelo Fórum Econômico Mundial com base em dados de 2014, a tão desejada igualdade de gênero no mercado de trabalho só chegará em 2095 – quase 80 anos até que as mulheres sejam tratadas de forma digna e igualitária pelos empregadores.

Enquanto isso, elas recebem apenas 74,5% da renda dos homens, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). De acordo com a pesquisa, em 2014 os trabalhadores receberam, em média, R$ 1.987, mas elas ganharam apenas R$ 1.480.

DISCRIMINAÇÃO NO MERCADO

A maior parte das vagas no mercado de trabalho também é destinada aos homens. Segundo o levantamento do IBGE, mesmo representando a maioria da população, em todo o mercado de trabalho, as mulheres ocupam só 43,1% das vagas.

Em alguns setores e profissões, essa discriminação é ainda mais gritante. Mesmo tendo capacidade técnica, conhecimento e condições de assumir a função, as mulheres não conseguem muito espaço em relação aos homens.

Os setores de transporte, metalúrgico, de engenharia e de construção civil, por exemplo, ainda têm profissões predominantemente masculinas.

Porém, mesmo com o preconceito, as mulheres estão lutando, ganhando espaço e mostrando seu valor e sua competência profissional.

“No começo, é muito difícil, porque ninguém acredita que você consegue fazer; para sermos reconhecidas, temos que fazer um bom trabalho. No meu primeiro dia, bateram na minha moto no trânsito e, no caminho inteiro, fiquei ouvindo que isso aconteceu por eu ser mulher e não saber pilotar”, conta a motofretista Adriana Regina do Carmo, filiada ao Sindicato dos Trabalhadores Condutores de Veículos Motonetas, Motocicletas e Similares de Curitiba e Região Metropolitana (Sintramotos).

Os homens também dominam quase todas as funções de chefia e supervisão nas empresas. De acordo com levantamento da Organização Internacional do Trabalho (OIT), as mulheres ocupam apenas 5% dos cargos mais altos.

“Onde trabalho, os cargos de chefia, na maioria, ainda têm homens. As mulheres têm dificuldade para subir na carreira, mas, pouco a pouco, estamos conseguindo. Temos que mostrar nossa capacidade e nos profissionalizarmos para chegar lá”, afirma Alzira Barbosa Tavares, que trabalha no setor do transporte público coletivo há 26 anos, hoje atua como técnica em segurança do trabalho e é associada ao Sindicato dos Empregados em Escritório e Manutenção nas Empresas de Transportes de Passageiros de Curitiba e Região Metropolitana (Sindeesmat).

DUPLA JORNADA

Além da luta diária para conquistar mais espaço e reconhecimento no mercado de trabalho, grande parte das mulheres enfrenta duplas e triplas jornadas, conciliando a vida profissional com a estudantil, a doméstica e a familiar.

De acordo com levantamento do IBGE, as trabalhadoras brasileiras passam em média 36,2 horas semanais fora de casa, e outras 22,3 horas ocupadas com afazeres domésticos, como limpeza da casa, preparo da alimentação, cuidados com os filhos, entre outros.

Com a rotina intensa de trabalho em dois empregos diferentes, Adriana Regina conta que, além da dupla jornada, precisa contar com o apoio da mãe para conseguir conciliar todas as atividades.

“Na minha gestação, trabalhei até os nove meses, e praticamente não vi meu filho crescer, porque trabalho de domingo a domingo. Tem que ter ajuda da família para conseguir cuidar do trabalho, família e casa, se não, não dá conta”, afirma a motofretista.

Mesmo com essa dura realidade, as mulheres estão cada vez mais fazendo sua voz ser ouvida e respeitada.

“Eu amo dirigir, sempre quis ser motorista, batalhei por isso e consegui. Ainda quero ir além e tirar minha carteira E. Acho que não podemos desistir do que queremos. Se você gosta do que faz, tem que arriscar e ir atrás. Nós fazemos o serviço tão bem quanto os homens”, incentiva Érica Cristina Vasconcelos, que trabalha como motorista de micro-ônibus e é filiada ao Sindicato dos Trabalhadores em Transportes Rodoviários de Londrina (Sinttrol).

Fonte: Fetropar