O Brasil é o 4º país no ranking mundial de acidentes no trabalho. A classificação, elaborada pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), mostra que o país sofre de uma carência na prevenção e fiscalização dos acidentes nas empresas e na conscientização dos funcionários e patrões.

Para abrir o debate sobre o tema e conscientizar as lideranças sindicais, a professora e pesquisadora Renata Viaro palestrou, em 25 de maio – último dia do Seminário de Replanejamento da Federação dos Trabalhadores em Transportes Rodoviários do Estado do Paraná (Fetropar) -, sobre A importância da Saúde e Segurança Ocupacional no setor dos Transportes Rodoviários.

De acordo com a pesquisadora, não há uma cultura eficaz nas empresas sobre a preservação de acidentes. Essa é uma das grandes dificuldades de conscientização, pois trata-se de uma questão nova.

“As pessoas, realmente, não conhecem a necessidade de saúde e segurança no trabalho, porque as normas regulamentadoras vêm em enxurrada e, muitas vezes, o próprio empresário não sabe nem da obrigatoriedade daquilo. Não conhece nem a Norma Regulamentadora nº 1 (NR-1), que dispõe que é obrigação do empresário saber”, argumentou Renata.

Qual a atual situação da segurança nas empresas de transporte?

Todo funcionário está sujeito a riscos no ambiente de trabalho – que podem ser tanto acidentes como doenças ocupacionais que se desenvolvem a longo prazo. Para o vice-presidente do Sindicato dos Trabalhadores Condutores de Veículos Motonetas, Motocicletas e Similares de Curitiba e Região Metropolitana (Sintramotos), Edmilson Pereira da Mata, os motociclistas são os mais prejudicados no trânsito, pois trabalham sobre duas rodas. Por isso, o seminário serve como auxílio para os líderes sindicais coletarem informações e repassarem aos trabalhadores.

“Temos um trabalho gigante, tanto na conscientização desses profissionais como na conscientização dos demais usuários das vias, que são o motorista comum e os profissionais”, destacou.

É preciso leis que protejam os trabalhadores e não os deixem expostos a situações degradantes e que comprometam o próprio trabalho e a vida humana. Foi o que apontou o presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Transportes Rodoviários de Francisco Beltrão (Sitrofab), Josiel Tadeu Teles. Conforme relatou o presidente, é fundamental que os patrões se sensibilizem com o tema da saúde e segurança no trabalho.

“É mais uma questão educacional de quem detém o poder diretivo da empresa, como gerente e proprietário, e a consciência de que é importante investir no ambiente de trabalho para que seja saudável. Não simplesmente fazer ‘olhos grandes’ e deixar as coisas acontecerem”, criticou.

Trânsito caótico, trabalhadores doentes

Conforme apresentou a pesquisadora Renata Viaro, os moradores do Paraná demoram, em média, 53 minutos entre casa e trabalho e vice-versa. Se a população se sente indignada com a demora, quem usa o trânsito como ambiente de trabalho, mais ainda. E os problemas enfrentados diariamente pelos motoristas, como o ruído, por exemplo, geram distúrbios que prejudicam a qualidade de vida dos trabalhadores.

Para o presidente do Sindicato dos Motoristas e Cobradores de Ônibus de Curitiba e Região Metropolitana (Sindimoc), Anderson Teixeira, o grande desafio do movimento sindical é comprovar que o estresse e a depressão são decorrentes das situações prejudiciais vividas profissionalmente.

“Temos que trabalhar neste sentido: comprovando que o estresse está sendo gerado no posto de trabalho. Porque o maior número de afastamento que temos hoje, dentro do setor de transporte, é, justamente, em razão do estresse. É óbvio que ele é derivado do serviço”, apontou o presidente.

Segundo Anderson, se o objetivo é trazer melhorias para os trabalhadores, a solução começa por um planejamento de mobilidade urbana nas grandes cidades. Com isso, o trânsito flui melhor e os motoristas conseguem melhores condições.

Como avançar não só na estrada, mas também no debate sobre segurança e saúde?

De acordo com a pesquisadora Renata, é preciso dar voz aos próprios trabalhadores para que eles relatem as necessidades da área.

“As pessoas têm carência de uma conscientização do seu direito de saúde e segurança e isso, infelizmente, é um trabalho que precisa de uma política de consciência. Na falta dessa política, o que nos resta de conscientização são esses trabalhos preliminares”, afirmou a professora.

Falar de saúde e segurança no trabalho deveria ser o “abc” das empresas. Mesmo assim, o presidente do Sindicato dos empregados em escritório e manutenção nas empresas de transportes de passageiros de Curitiba e região metropolitana (Sindeesmat), Agisberto Rodrigues Ferreira Junior, explica que há uma carência com relação à própria proteção do trabalhador.

“Para avançar, é preciso intensificar a fiscalização junto ao sindicato, junto à Fetropar e, principalmente, junto ao órgão competente, que é a própria Superintendência Regional do Trabalho, e que tem um corpo de fiscal que atende essa área de Segurança e Medicina do Trabalho”, destacou.

Fonte: Fetropar