Em relação a 2014, a queda no mercado deverá ser de 47% ao final do ano: de 137 mil para 72 mil emplacamentos
O mercado de caminhões no Brasil vai fechar 2015 com cerca de 72 mil emplacamentos, uma queda de 47% em relação ao ano passado, quando foram 137 mil. Isso significa voltar a um patamar mais baixo que o de 10 anos atrás. Em 2005, foram vendidos 78.800 caminhões zero quilômetro. Em 2008, o mercado havia ultrapassado o marca dos 100 mil veículos comercializados. E desde então vinha se mantendo acima deste nível. Quando comparada com o recorde histórico de 2011 (172.600 emplacamentos), a retração é de 58% (ver quadro).
Os números são da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave). De janeiro a novembro deste ano, segundo a entidade, foram emplacados 66.210 veículos. No mesmo período de 2014, haviam sido 123.355.
“O setor de transporte sente a crise mais cedo. Já estava numa situação muito difícil no começo do ano”, afirma Carlos Ardaidz, gestor da Konrad Caminhões (concessionária Ford). Segundo ele, a loja vendeu 220 caminhões em 2014 e, neste ano, serão 120 (queda de 45%). A empresa precisou enxugar sua estrutura e investiu na área de pós-venda para se sustentar. “O pós-venda demora mais para sentir a crise. Temos todos os 220 caminhões vendidos no ano passando vindo fazer manutenções”, declara.
Além das dificuldades financeiras por que passam os clientes das concessionárias, o mercado de caminhões viu fecharem as torneiras do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Durante vários anos, como forma de incentivar a indústria automobilística, o governo federal ofereceu juros muito baixos para a compra de caminhões pelo Finame PSI – linha de crédito do banco estatal. Em alguns momentos, levando em conta a inflação, as taxas chegaram a ser negativas. Em 2015, estavam pré-fixadas a 9,5% ao ano.
O governo encerrou o programa no final de outubro. Reabriu após pressão das montadoras durante a feira do setor de transporte, a Fenatran, que foi realizada de 9 a 13 de novembro, em São Paulo. Mas já fechou de novo. A expectativa do mercado é que o BNDES não irá oferecer novamente o programa em 2016. E o mercado terá de trabalhar com uma linha pós-fixada pela Taxa de Juros de Longo Prazo, a TJLP, o que hoje representa algo em torno de 14,5% ao ano, incluindo o spread bancário.
“Esperamos que, no ano que vem, os bancos das montadoras ofereçam condições de financiamentos que sejam atraentes para compensar o fim do PSI”, afirma Ardaidz. Como atraente, ele considera uma taxa pré-fixada de 1% ao mês, o que concorreria com a TJLP do BNDES, que é pós-fixada. O gestor diz que a empresa está preparada para enfrentar 2016. “Difícil foi 2015 porque não estávamos esperando um baque tão grande”, declara.
A concessionária Servopa, de Cambé, que comercializa caminhões das marcas MAN e Volkswagen, vendeu 163 veículos até outubro, contra 230 no mesmo período do ano passado – queda de 30%. “O único setor da economia que continua em alta é o agronegócio, mas ele comprou muitos caminhões nos anos anteriores e agora pisou no freio”, afirma o gerente de Vendas, Adenilson Silva.
A empresa, segundo ele, não fez demissões. “Nós mantivemos o pessoal acreditando que o cenário vai mudar”, declara. Ele aposta num reaquecimento do mercado após março de 2016. E tem esperança que o governo irá oferecer algum tipo de financiamento que ajude o setor. “Alguma linha de crédito tem que ter”, aposta.
Fonte: Folha de Londrina