A análise conjuntural foi o principal ponto discutido no segundo dia do XV Seminário Preparatório para as Negociações Coletivas da Federação dos Trabalhadores em Transportes Rodoviários do Estado do Paraná (Fetropar) para o Ano de 2016.
Os debates de hoje (29) começaram com o economista do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) Sandro Silva, que fez uma abordagem sobre O Brasil Econômico – Balanço/2015 e Perspectivas/2016.
De acordo com Silva, o Brasil enfrentou uma crise fiscal, o que ocasionou uma política e agora chegou a uma crise econômica, trazendo reflexos negativos aos trabalhadores com o aumento do índice de desemprego e da informalidade e a queda da renda.
Segundo ele, o capital financeiro e os bancos têm sido os mais privilegiados nessa conjuntura. “O pobre paga mais impostos e quem suga dinheiro é o setor financeiro. Outro problema que gera essas distorções é a questão política: quem escolhe quem vai se eleger é quem tem dinheiro para bancar as candidaturas, por isso esses candidatos vão defender interesses privados”, explicou.
A economia teve um baixo crescimento neste ano, com a inflação alta – passando de 9,5% nacionalmente, e de 10% em Curitiba –, a taxa do Sistema Especial de Liquidação e de Custódia (Selic) também subiu e está em 14,25%, assim como o volume de crédito, de acordo com o economista.
A expectativa é de que em 2016 a situação econômica melhore, no entanto Silva defende que isso dependerá da mobilização dos trabalhadores. “Se não invertermos a lógica da política econômica de redução de despesas, aumento da receita e corte de direitos para priorizar o pagamento de juros da dívida interna, podemos levar o país a uma recessão e demorar para voltar a crescer. Precisamos da união dos trabalhadores para reverter esse cenário”, destacou.
A segunda mesa do dia tratou de O Brasil e o Paraná Político – Balanço/2015 e Perspectivas/2016, com a participação do docente do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Ricardo Oliveira.
Segundo o palestrante, a origem dos problemas de má concentração de renda no país e da priorização da disputa pelo poder em detrimento dos direitos da população pode ser encontrada no monopólio dos detentores do poder no país – ligados ao setor empresarial e não às causas sociais dos trabalhadores.
“Quando investigamos as bancadas do Legislativo, encontramos vários interesses localizados, que colocam a representação política bastante marginalizada. Mais da metade do Senado e da Câmara representa famílias antigas na política. Temos um monopólio oligárquico de poucas famílias”, afirmou Oliveira.
No Paraná, a situação não se difere. De acordo com o professor, o poder político é como uma herança passada nas famílias tradicionais – muitas delas inclusive detêm o poder desde o século 19. “A política se tornou um negócio de família aqui”, frisou.
Outra característica da política brasileira é o modelo de privatização e extorsão da população pelos grandes grupos do capital financeiro. “Esses grupos empresariais, do capital financeiro e da grande mídia são uma ameaça à democracia e aos interesses dos trabalhadores, pois procuram suprir direitos, reduzir salários e privatizar”, destacou o docente.
Nos debates, os dirigentes sindicais destacaram a importância da união para combater esse modelo imposto em nossa sociedade.
“Hoje há vários projetos em andamento que trazem retrocessos para a classe trabalhadora. Corremos o risco de perder direitos adquiridos com muita luta. Os trabalhadores são a maior parte desse país, se votarmos com consciência e pararmos de votar nos patrões, teremos mais defensores dos nossos direitos”, afirmou o presidente do Sindicato dos Motoristas, Condutores de Veículos Rodoviários Urbanos e em Geral, Trabalhadores em Transportes Rodoviários de Dois Vizinhos (Sintrodov), Alcir Antônio Ganassini.
Fonte: Fetropar